Responsabilidade juvenil – 1905

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Por Frederico Pimenta

Releitura dos documentos originais da história dos Salesianos em Portugal. Trabalho ímpar de tantos investigadores, com especial destaque para o Pe. Amador Anjos, historiador, conhecedor profundo e inspirador de dissertações e teses sobre a

vida e obra dos Salesianos em Portugal.

Responsabilidade juvenil – 1905

Em 8 de dezembro de 1854, o Papa Pio IX instituiu, através da bula Inneffabilis Deus, o dogma da Imaculada Conceição da Bem-aventurada Virgem Maria. Cinquenta e um anos após esta intitulação, em 1905, o Boletim Salesiano (BS) (1) relata um pormenor da celebração desta data desenrolado nas Oficinas de S. José, então ainda na Rua do Sacramento à Lapa. A notícia encontra-se na secção Noticias de aquem e de alem-mar, com o título “Portugal, Lisboa, Officinas de S. José – No quinquagésimo anniversario da definição do Dogma da Immaculada Conceição de Maria”.

A notícia datada desse início do século vinte aponta-nos uma realidade concreta sobre o processo educativo salesiano que tem o jovem como centro dinamizador das aprendizagens.

As dificuldades sempre sentidas na concretização material dos projetos para a construção do edifício mais antigo das Oficinas de S. José no espaço denominado Prazeres criou inúmeros entraves ao movimento normal da instituição, essencialmente derivado das dívidas contraídas pelo projeto. Este terá sido um dos motivos das dificuldades sentidas. Contudo, as obras de edificação estavam perto da conclusão e, no mês de dezembro, seriam ocupadas pela comunidade e alunos das Oficinas de S. José. Nesse ano de 1905, “O Rev.mo S. Inspector ao lamentar sentidamente a impossibilidade que as circumstancias opunham a uma digna manifestação á Virgem (…)” (2) avançou com a ideia de colocar a responsabilidade desse momento celebrativo nos jovens que frequentavam as Oficinas de S. José. Estas dificuldades foram, aliás, partilhadas com os leitores do BS no número anterior. onde se pode ler: “No dia 8 de Dezembro lamentámos mais uma vez (e desta muito amargamente) a falta que nos faz a casa nova”. (3) As respostas não tardaram e encantaram o redator da notícia: “E foi um espectaculo enternecedor ver o enthusiasmo com que aquelles excelentes jovens acolheram e actuaram o desejo (…)”. (4) Foi, pois, o espírito de juventude que imperou no nascimento dos Salesianos que prevaleceu neste instante, aliás, como surge atualmente nos espaços orientados pelos Salesianos e nele entronca a pedagogia de D. Bosco. 

Os frondosos jardins que circundavam as OSJ, os quais descrevemos em escritos anteriores, estruturalmente apoiados no BS de agosto de 1905, (5) e que surgem ilustrados no documento fotográfico, serviram de base para a primeira ideia avançada pelos alunos. Uma pequena imagem da Virgem de Lourdes encontrava-se incrustada “(…) no reconcavo de carcomido tronco”, (6) e em seu redor os estudantes criaram ornamentações coloridas e fizeram-na ponto central de uma procissão por ela encabeçada. Desta procissão apresenta o BS uma aprazível enumeração que contemplou os cânticos, as deambulações pelos espaços das OSJ, os pátios arborizados, o reflexo da encosta virada ao rio Tejo e a beleza do seu enquadramento e os versos lidos. “Remataram a festa as palavras animadoras e os calorosos parabens do amado Superior”.  (7)

Os oitenta alunos que frequentavam as Oficinas de S. José dividiram-se em diversas funções para a organização dessa celebração, tornando, desta forma, mais fácil a sua concretização. Atividade interessante e digna de anotação foi a privação “(…) das gratificações semanaes, (…)” (8) que os alunos canalizaram para as despesas da festa dos cinquenta anos do dogma instituído pela encíclica papal.

Sem existência física, mas com destaque fervoroso na parte final da notícia, surge a edificação de uma associação com regras idealizadas pelos alunos e “(…) enthusiasticamente aprovadas pelos superiores (…)”. (9) Neste momento cronológico dissecado, o ministério de Inspetor era exercido pelo Pe. Pedro Cogliolo e o de Diretor das OSJ pelo Pe. Ambrósio Tirelli. Esta associação denominou-se “Maria Immaculada” e os seus primeiros membros fizeram as respetivas promessas no dia 6 de janeiro de 1905. Projeto que se revelou estável, pois, em agosto do mesmo ano, voltou a ser referenciado (9) aquando da realização da Festa de Maria Auxiliadora, nas Oficinas de S. José, no dia 28 de maio de 1905.

Desta aliciante notícia, computou-se, nas palavras vigorosas do articulista, o seguinte: “Uma ovação sincera e calorosa a estes viridentes renovos da arvore frondosa do operariado catholico”. (10)

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  • Ibidem.
  • Boletim Salesiano, Revista das obras de Dom Bosco, Anno IV, Turim, Fevereiro, N. 2, 1905.
  • Boletim Salesiano, Revista das obras de Dom Bosco, Anno IV, Turim, Março, N. 3, 1905.
  • Boletim Salesiano, Revista das obras de Dom Bosco, Anno IV, Turim, Agosto, N. 8, 1905.
  • Boletim Salesiano, Revista das obras de Dom Bosco, Anno IV, Turim, Março, N. 3, 1905.
  • Ibidem.
  • Ibid.
  • Ibid.
  • Ibid.