1950 – Esboço do trabalho salesiano à luz do Boletim Salesiano

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Frederico Pimenta

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Por Frederico Pimenta

Releitura dos documentos originais da história dos Salesianos em Portugal. Trabalho ímpar de tantos investigadores, com especial destaque para o Pe. Amador Anjos, historiador, conhecedor profundo e inspirador de dissertações e teses sobre a vida e obra dos Salesianos em Portugal.

No Ano Santo de 1950, o Reitor Maior, Pe. Pedro Ricaldone, apresentou a denominada Estreia ao mundo salesiano: Conhecer, amar e defender o Papa. Fê-lo em carta assinada de 24 de dezembro de 1949. A Inspetoria Salesiana Portuguesa de S. António foi marcada, nesse ano, pela saída do Pe. Hermenegildo Carrá, substituído pelo Pe. Agenor Vieira Pontes. O primeiro orientou, de forma superior, os destinos da presença salesiana durante quinze anos e o segundo, proveniente do Brasil, desempenhava na altura o cargo de Ecónomo Inspetorial da Inspetoria de S. João Bosco, em Nicteroy.

Após as páginas iniciais, com os elementos anteriormente elencados e procurando neste trabalho as notícias respeitantes à atividade salesiana no território português de então, surge o apontamento sobre a beatificação de S. Domingos Sávio, que ocorreu no dia 5 de março de 1950. O Boletim Salesiano dos meses de maio-junho-julho, número 70, surgiu como número comemorativo da Beatificação de Domingos Sávio. Nestas linhas, discorre-se sobre a vida de Domingos Sávio, as cerimónias realizadas na Basílica de S. Pedro, em Roma, e as referências feitas pelos Papas Pio X, Bento XV, Pio XI e Pio XII sobre o jovem santo. É apresentado como modelo para todos os jovens e em especial à juventude portuguesa. Em Portugal, as cerimónias decorreram igualmente nas diferentes presenças salesianas, terminando na cerimónia realizada nas Oficinas de S. José de Lisboa, com a presença de 700 rapazes em representação dos 3.349 alunos que frequentaram, de acordo com o Boletim Salesiano coevo, as escolas salesianas no ano de 1950. Além do desenrolar festivo ocorrido nas Oficinas de S. José de Lisboa, registou-se ainda a ocupação dos espaços da Basílica da Estrela e do ginásio do Liceu Pedro Nunes.

Sob o título Obras salesianas – Em Portugal e no império, elenca-se um conjunto de informações que alicerçaram este ano de 1950 e que passamos a descrever.

Sobre Lisboa, e nas Oficinas de S. José, no número de janeiro-fevereiro, surge a apresentação da carga horária dos alunos dos diferentes graus de ensino. Noticiados e destacados os momentos festivos: dia Missionário, festa do Cristo-Rei, Companhia do Santíssimo e o seu projeto de erigir uma estátua a Domingos Sávio, tema que já abordámos em artigo anterior, a noite de Natal, a festa de S. Francisco de Sales em que se visionou pela primeira vez o filme sobre D. Bosco e a respetiva festa de S. João Bosco. Na publicação de agosto-setembro-outubro, apresentaram-se os resultados escolares do ano de 1949/1950: das oficinas, 14 aprovados; do curso industrial, 58 aprovados; do curso comercial, 36 aprovados; e 62 do curso de admissão e, no curso primário, 161.

Respeitante ao Estoril e ao Asilo de Santo António, no número de janeiro-fevereiro, patenteou-se o número de 320 rapazes como os protegidos pelo asilo e elencou-se o acolhimento que recebiam, juntamente com os familiares, nas sessões recreativas e teatrais que tinham lugar aos domingos. A exteriorização da presença salesiana fazia-se através de passeios pedestres entre o Estoril e Cascais, em especial o passeio das castanhas promovido pela benemérita Duquesa de Palmela. Nesse ano de 1950, vivenciaram-se as festas da Imaculada Conceição, a das Missões e o dia “Pro Oriente Christiano”. Sobressaiu ainda um jantar oferecido pela Comissão de Benfeitoras e a ordenação de três novos diáconos. No número seguinte, março-abril, saliência para a Festa de S. João Bosco com o destaque da primeira comunhão de 25 alunos, a inauguração do novo pavilhão para as aulas e o lançamento da primeira pedra do teatro-ginásio, acontecimentos presididos pela mulher do Marechal Carmona e do Diretor do Asilo, Pe. Bartolomeu Valentini. A imprensa esteve presente e dela o Boletim Salesiano extraiu o texto proveniente do Diário Popular. Referências ainda para o facto de esta festa ser filmada por um encarregado de educação e a conferência, a 22 de março, pelo Professor Dr. Delfim Santos, catedrático de Ciências Pedagógicas da Universidade de Lisboa. A publicação de agosto-setembro-outubro apresentou a estatística do ano escolar de 1949/1950 no que respeita à passagem de ano e às aprovações nos exames finais, no total de 292 alunos. Referência ainda à Festa da Mata, no dia 24 de agosto de 1950, e ao papel dos benfeitores. Referência última para o desenvolvimento das obras que se encontravam em execução e o encerramento do ano no Instituto Missionário com a ordenação de três presbíteros, seis subdiáconos, uma ordem menor e sete tonsuras.

Referente à Casa Pia, em Évora, e no número de janeiro-fevereiro, destaca-se, no último mês do ano de 1949 e noticiado no número de janeiro de 1950, o início do Oratório Festivo de Domingos Sávio não só para os alunos externos da Escola Industrial como para os rapazes dos bairros adjacentes à obra salesiana. Os frequentadores chegaram rapidamente aos 116. Na publicação de março-abril, vários destaques sobressaíram na sua redação. A festa de S. João Bosco decorreu na sua data respetiva, 31 de janeiro, e nela foram distribuídas 120 blusas de flanela. Ainda nessa data foram celebradas missas com a presença de 57 alunos da Casa Pia, 250 do Oratório de S. José, além das raparigas do Jardim de Infância do Convento Novo e do Oratório de Domingos Sávio, sendo a principal presidida pelo Pe. Armando Monteiro, diretor da Casa Pia. Também neste espaço alentejano a imprensa nacional esteve presente através do texto de A Defesa, posteriormente transcrito para o Boletim Salesiano.

Na cidade do Porto, em concreto na Casa Salesiana de Maria Auxiliadora, eleva-se no número de janeiro-fevereiro a Instituição caritativa que lutou constantemente com falta de recursos, impossibilitando, por vezes, a aceitação de quem a procurava. A solução proposta passava pela aquisição de mais terreno para a construção de instalações que pudessem acolher todos os pedidos. Nas denominadas “Edições”, portento da Imprensa tão benquista a D. Bosco, recolheu-se a informação do trabalho de pagelas, em número de 5.000, para o Ano Santo, e as edições de duas obras: “Vou para o Céu” e Joãozinho”. Na publicação de março-abril de 1950, a Casa Salesiana acolheu a festa de S. João Bosco em dois momentos: um, na respetiva data, celebrado no interior da Casa e no exterior, no salão do Círculo Católico, com a interpretação de uma opereta; e outro, nessa mesma localização e data, com uma conferência sobre Os Oratórios Festivos. Na informação de carácter geral, sobressaíram as obras de remodelação da capela e as atividades da Juventude Missionária. Uma vez mais e, agora na Oficina de S. José, a Novidades descreveu o ambiente em torno da festa de S. José: as missas presididas pelo Pe. Agenor Vieira Pontes e Pe. Luís Maria Maffini, as visitas realizadas às instalações, o bazar, as exposições dos trabalhos das diferentes oficinas e a banda da escola, dirigida pelo Pe. Diamantino Monteiro. Na publicação de agosto-setembro-outubro, anota-se a continuação do programa emitido na Rádio Renascença, A História maravilhosa do Amigo dos Rapazes, sob a responsabilidade do Pe. Abílio Augusto Preto. Por último, elencaram-se os títulos prontos para divulgação, nesse ano de 1950, da responsabilidade do Centro de Edições.

Do longínquo território de Timor e no número de janeiro-fevereiro, inscreveu-se a nota sobre o trabalho com centenas de rapazes e as dificuldades encontradas para o caminho da missionação. Na publicação de agosto-setembro-outubro, transcrita do Boletim Eclesiástico da Diocese de Dili, relata-se a festa, realizada em 24 de maio, no decorrer da primeira procissão realizada a Nossa Senhora de D. Bosco, naquele território. A esta cerimónia acresceu um sarau que posteriormente foi repetido no momento da despedida do Governador da Colónia. Ainda sobre as missões no território timorense, surgem breves, mas profundas e corajosas, notícias das zonas de Dili e Fuiloro. 

Do Oceano Atlântico e em destaque nos Açores e no número de janeiro-fevereiro, apresenta-se uma nota de esperança sobre a necessidade aí sentida da presença dos Salesianos. Noticiou-se a festa de S. João Bosco, na igreja de Santa Clara, em Ponta Delgada. A relação de D. Bosco com o operariado foi destacada no jornal “Açores”.

Num breve cambiante e na primeira publicação do ano de 1950, escreveu-se num vislumbre sobre a presença das Filhas de Maria Auxiliadora no mundo e concretamente em Portugal, elencando-se as Casas de Lisboa, Évora, Setúbal e Beira Alta, com milhares de crianças sob a sua dependência.

No número de março-abril, no ano de 1950, inicia-se, reportando-nos às notícias de índole portuguesa, um relato magnificente, na primeira pessoa, da viagem do Pe. Agenor Vieira Pontes, inspetor, ao arquipélago de Cabo Verde. Nele, desde o dia do início da viagem a seis de dezembro de 1949, até janeiro do ano seguinte, elencaram-se as condições de transporte, de relacionamento com as autoridades civis, de alojamento, de postura do pessoal salesiano no local e a contínua necessidade de apoio benemerente. Na edição de agosto-setembro-outubro do Boletim Salesiano, encontramos referência ao território de Cabo Verde aquando da partida do Pe. Filipe Pereira para este território, concretamente para a Missão de S. Nicolau, deixando Évora. Uma vez mais a imprensa, através do Notícias de Évora, deu-nos nota deste acontecimento.

As memórias provenientes de Mogofores, a 29 de dezembro de 1949, publicadas no Boletim Salesiano de março-abril de 1950, exaltaram a ordenação do Pe. Francisco Rodrigues Torres bem como a missa nova no dia da festividade de D. Bosco, a 31 de janeiro de 1950. No conjunto dos meses de agosto-setembro-outubro, elaborou-se a estatística do ano letivo de 1949/1950, elencando-se os aspirantes do primeiro ao quarto anos, respetivamente 22, 15, 35 e 18.

Na mesma publicação referida no parágrafo anterior, surge a Casa de Vila do Conde, Escola Profissional de Santa Clara, com o relato da Festa de S. João Bosco e os melhoramentos que se realizaram naquelas instalações, a par da inauguração de maquinaria e fardamentos. Esse relato foi elaborado pelo jornal O Século de 2 de fevereiro desse ano e transcrito para as páginas do Boletim Salesiano. Igualmente são referidas as figuras do então diretor da obra salesiana e do seu antecessor, respetivamente Pe. Lino Ferreira e Pe. José da Silva Lucas.

Continuando na publicação de março-abril, destaque para as notícias provenientes do Asilo 28 de maio, das Filhas de Maria Auxiliadora. Delas recolhemos a presença do Diretor das Oficinas de S. José, Pe. Eugénio Magni, na festa da S. João Bosco, e a cerimónia de entrega das medalhas de Maria Auxiliadora às novas postulantes. Inclusa encontra-se a nota sobre a visita, datada de 24 de maio de 1949, da Superiora Geral das Filhas de Maria Auxiliadora, a Rev. Madre Linda Lucotti, e nova visita, agora da Conselheira do Capítulo das Filhas de Maria Auxiliadora, datada de 22 de março de 1950, Rev. Madre Pierina Uslenghi. Nesta última presença, realizou-se a visita ao Asilo e o encontro com as 420 raparigas ali protegidas. As notícias sobre o Asilo são retomadas na publicação de agosto-setembro-outubro, dando nota do período das férias e o acompanhamento concedido às alunas, constando de passeios pela zona de Cascais com presenças na mata dos Salesianos do Estoril, nos Parques de Palmela e Marechal Carmona e uma excursão ao Guincho.

Da Índia surgem no Boletim Salesiano de agosto-setembro-outubro de 1950 notícias sobre a visita realizada em 24 de julho pelo Diretor Geral do Ensino, Dr. Braga Paixão, às obras salesianas em Goa, nomeadamente o Oratório Festivo, Orfanato, Escola Profissional, Escola de Português e Escola de Inglês.

Ainda na publicação anteriormente destacada, inscreveram-se as notícias de Macau, através do elenco de títulos editados pela imprensa salesiana no território e a excelente receção que tiveram, apesar das dificuldades políticas existentes. Destaca-se o trabalho conjunto com as Filhas de Maria Auxiliadora e outras Congregações.

As fontes utilizadas na redação deste trabalho referem-se exclusivamente ao Boletim Salesiano do ano de 1950. Nesse ano, o número 68 corresponde à edição de janeiro-fevereiro; o número 69, à edição de março-abril; o número 70 à edição de maio-junho-julho; o número 71, à edição de agosto-setembro-outubro; e o número 72, à edição de novembro-dezembro.