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Aliquis – a visita de alguém

Orphamsinhos Chineses Mantidos no Collegio Salesiano de Macau

Por Frederico Pimenta

Releitura dos documentos originais da história dos Salesianos em Portugal. Trabalho ímpar de tantos investigadores, com especial destaque para o Pe. Amador Anjos, historiador, conhecedor profundo e inspirador de dissertações e teses sobre a vida e obra dos Salesianos em Portugal.

Aliquis – a visita de alguém

Data de 1925 o conjunto de reflexões elaboradas por um visitante ao território de Macau, concretamente aos espaços salesianos então ocupados pelos prossecutores da Obra de D. Bosco. Relemos essas considerações, quando perfaz 100 anos da sua elaboração. Uma vez mais, o Boletim Salesiano (BS) (1) lança mãos a uma outra publicação escrita, A Pátria, para realçar os contornos do trabalho desenvolvido pelos Salesianos, neste caso no território chinês de Macau, que no momento cronológico abordado se encontrava sob administração portuguesa.

Contextualizando este escrito, nele podemos constatar a curiosidade latente no redator sobre o progresso realizado no Orfanato da Imaculada Conceição, em Macau. Os Salesianos tomaram sob a sua responsabilidade esta instituição em 1906 e, após a pausa imposta pela implantação da república, reabriram a obra em 1912, tornando-se de importância fundamental para aquela zona geográfica.

A descrição começou na visita ao Seminário de S. José, onde o redator estudou, manifestando o seu reconhecimento por tal acompanhamento. Após este assento, o redator, “(…) que se occulta sob o pseudonymo Aliquis (…)”, encaminha-se ao Orfanato indicado anteriormente.

Na primeira pessoa, afirmou: “Cheguei agora de Macau”. No escrito que elaborou, não esconde a “(…) ânsia febril de contemplar de perto o que a respeito desta Instituição tenho ouvido a compatrícios meus”. A visita pretendida decorreu na companhia do Superior da Casa Salesiana, o Pe. Bernardini, “(…) Reverendo das barbas louras (…)” que orgulhosamente deambulou pelas instalações.

Ficamos deste modo a conhecer este espaço educacional, nesse ano de 1925.

Nas oficinas de sapateiro, trabalhavam “(…) 32 rapazes aprendizes (…)” sob a orientação de um antigo aluno formado por mestre sapateiro europeu. Os 18 anos da existência destas oficinas traduziram-se em inúmeros profissionais e a existência de sapatarias orientadas por esses antigos alunos: “Muitas das sapatarias de Macau são dirigidas por antigos discipulos dos Salesianos”.

Igualmente as oficinas de alfaiataria denotam análogos vigor e inserção na comunidade macaense.

Na abordagem às oficinas de carpintaria, reconheceu que “(…) é, pode dizer-se, ainda incipiente (…). Contudo, o trabalho desenvolvido por um mestre, “(…) sacerdote português (…)”, denota trabalhos “(…) muito sólidos e de bom gosto, de perfeito acabamento”. As oficinas encontravam-se bem apetrechadas, sendo realçado o uso de “(…) serra circular, a plaina em esquadro, a perfuradora e de fazer malhetes, e o pião ou mâquina para molduras”.

A oficina de tipografia foi destacada quer pela qualidade da maquinaria, quer pela elevada quantidade de trabalho desenvolvido. Ficamos a conhecer, em particular os trabalhos executados, especialmente para A Pátria, Boletim da Diocese, Anuário de Macau e variados livros. Alteia o visitante o facto das composições se executarem em português, inglês, francês, italiano e latim, sendo os alunos chineses.

Discriminou, na continuação do seu deambular escrito sobre o Orfanato da Imaculada Conceição, os apoios recebidos pela Instituição, detalhando as “(…) 7 mil patacas anuais da Missão, igual quantia do Governo da Provincia e o resto (que são 26 mil dólares aproximadamente) cobre-o o rendimento das oficinas e a protecção dalgumas almas boas”. Esta referência testemunhou, uma vez mais, o papel da benemerência presente na vivência salesiana. Neste seguimento, nesse ano de 1925, as instalações foram beneficiadas com a construção de uma cisterna, importante melhoramento igualmente apontado na redação deste visitante.

O Pe. Bernardini partilha, como guia da visita, o esquema da instrução desenvolvida no orfanato macaense, enumerando o estudo do português, chinês, catecismo, ofício mais adequado a cada aluno, música instrumental e coral, ginástica e instrução religiosa. Realçou, ainda, a existência de mestres qualificados para diferentes áreas. Aliquis avalia a sublimidade apresentada desta maneira: “E’ esta a impressão que me deixou a visita muito à pressa que fiz ao Orfanato da Imaculada Conceição de Macau”.

Na data desta publicação, tinham vivenciado este processo educativo cerca de 700 chineses e a forma como o testemunhavam no seu percurso de vida fez exclamar, de forma estrondosa, o visitante que o traduziu na sua prosa: “Que belo modelo de educadores!…”.  

 

(1) Boletim Salesiano – Revista das obras de Dom Bosco, Anno XXII, Março/Abril, Número 2, 1925. Todas as citações foram retiradas deste número do Boletim Salesiano.