“É impossível dar uma pallida idea do enthusiasmo com que foi recebido o Monarcha pela luzida e selecta assistência que alli o aguardava.”

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Releitura dos documentos originais da história dos Salesianos em Portugal. Trabalho ímpar de tantos investigadores, com especial destaque para o Pe. Amador Anjos, historiador, conhecedor profundo e inspirador de dissertações e teses sobre a vida e obra dos Salesianos em Portugal.     1909 – A presença salesiana em Portugal no Boletim Salesiano coetâneo   Desde a entrada dos Salesianos em Portugal em 1894 registaram-se sucessivas inaugurações e posse de espaços que testemunharam o bom nome dos Salesianos e a boa prestação que emanaram dos seus espaços de intervenção.   Elenquemo-los, evocando desta forma o ano de 1894 como o início do percurso dos salesianos em terras portuguesas, no Colégio de S. Caetano em Braga. Em 1896, em Lisboa, entraram na direção das Oficinas de S. José e, um ano depois, em 1897, na direção da Casa de Formação, em Pinheiro de Cima. Esta fecunda presença espraia-se para terras açorianas quando, em 1903, tomam posse do Orfanato João Baptista Machado, em Angra do Heroísmo. No ano de 1904, uma nova Oficina de S. José nasce em Viana do Castelo. 1906 surge abundante nas presenças no continente asiático, nomeadamente na Índia, corporeamente em Tanjor, no Orfanato de S. Francisco Xavier e em Macau no Orfanato da Imaculada Conceição. Igualmente no continente africano surge a presença salesiana na Escola de Artes e Ofícios, na Ilha de Moçambique, no ano de 1907. De novo nos territórios europeu e asiático a presença dos Salesianos fez-se sentir: no ano de 1909, tomam posse, na cidade do Porto, da Oficina de S. José, e na Índia, efetivamente em Meliapor, do Orfanato de S. Tomé Apóstolo, cujo grupo de rapazes vem retratado no testemunho fotográfico contemporâneo que encima este escrito.   No ano de 1910, perto do seu término, surge a alteração do regime político vigente em Portugal e no decurso da implantação da república a presença salesiana foi suspensa, a par das outras ordens religiosas. Neste artigo, listaremos os acontecimentos elencados unicamente no ano de 1909 no Boletim Salesiano  do ano coevo. Sentiremos o crescimento da obra salesiana em Portugal, no espaço europeu e nos territórios que, no momento cronológico observado, a ele estavam agregados nos pequenos pormenores fluentes das notícias aglomeradas na Revista das Obras de Dom Bosco . Efetivamente, leves acenos que cerram um capítulo deste sonho herdado de D. Bosco.   O ano começou com as contagiantes palavras de D. Miguel Rua na comunicação anual ao mundo salesiano. Descreve as obras realizadas no ano anterior e lança um olhar brilhante sobre o futuro da Obra na Europa, Ásia, África e América, privilegiando os denominados Oratórios Festivos e o seu papel social bem como o apoio imprescindível às Missões. A primeira notícia surge proveniente de Viana do Castelo, “ Viana do Castelo – Officinas de S. José – Bençam solene duma bandeira”,  (1) à semelhança da cerimónia descrita no Boletim Salesiano de julho de 1905 e, realizada em Lisboa e já abordada em texto anterior. Agora, em Viana do Castelo e quatro anos depois, tomamos conhecimento de que “O dia 2 de Novembro foi para a Officina de S. José dos mais sollenes, pois tratava-se da bençam da bandeira do Collegio”. No corpo do texto, refere-se o dia 1 de novembro como a data da bênção do estandarte. (2)  A par das preocupações inerentes à construção de um novo edifício e a necessidade de “um signal distinctivo desta Officina quando se apresentasse em ocasiões solenes” (3)   e “as muitas despezas”, (4)  surge o contributo necessário para esta realização “na pessoa  do Exmo. Sr. Antonio Mimoso”  (5)  . A detalhada descrição da elaborada bandeira prolonga-se por dois compactos parágrafos, focando “os emblemas da musica e das demais artes… a divisa d’aquelle estabelecimento… cordões azues e brancos… entretecidas de ouro… uma lança toda de prata…” (6) A cerimónia decorreu no “grandioso templo da Misericordia em Viana do Castello” (7)  e constou de Missa, bênção da bandeira, palestra sobre Virtude e Trabalho , Te Deum na capela da Oficina. Esta nova construção aludida no texto foi muito visitada pelo público.   Ainda de Viana do Castelo, mas no número seguinte do Boletim Salesiano , (8) continua a narração de mais um acontecimento ali decorrido. Surge relatada a visita de “Sua Majestade El-Rei D. Manuel II”. (9)  Os alunos, com a respetiva bandeira e banda, esperaram o monarca na estação ferroviária e acompanharam-no, realizando o trajeto pelas ruas da cidade vianense.  Prossegue a descrição da receção ao rei, o aglomerado de população, a decoração do edifício da Oficina de S. José e o destaque da presença dos benfeitores, encimada pela figura do Pe. Luis M. Maffini, como Diretor das Oficinas enobrecem este relato. O ambiente é descrito como exuberante nas cores, decorações e individualidades, realçando o povo de Viana do Castelo: “É impossível dar uma pallida idea do enthusiasmo com que foi recebido o Monarcha pela luzida e selecta assistência que alli o aguardava”, (10) O Diretor da escola afirmou: “Em meu nome, em nome destas criancinhas que aqui á sombra da Caridade e da Virtude, se preparam para bem servir á Familia á Patria e Deus … apresento a Vossa Majestade esta singela mas sentida e sincera homenagem da nossa gratidão…”; (11) D. Manuel Ii respondeu “agradecendo a recepção de que havia sido alvo, fez os mais ardentes votos pelas prosperidades da Officina”, (12)  O monarca assinou o livro dos visitantes. No final desta visita, as Oficinas receberam apoio monetário por parte de benfeitores devidamente elencados nas páginas deste Boletim Salesiano .   A publicação de maio de 1909 do Boletim Salesiano (13)  remete-nos para a realidade do Colégio de S. Caetano, em Braga, relatando a celebração de S. Francisco de Sales, no dia 31 de janeiro desse ano. Nessa festa, foi apresentado o santo “como modelo de todas as virtudes Christans”. (14) No dia 11 de fevereiro, a comunidade salesiana celebrou as “solenes exéquias pelas victimas de terremoto da Sicilia e Calabria”. (15)  Uma celebração orientada para os Cooperadores serviu para uma nova inauguração na “Capellasinha, que acaba de passar por modificação e concertos de importancia”. (16) Ainda neste dia 14 de fevereiro, cerca de 700 pessoas assistiram, incluída nestas Conferências aos Cooperadores, a uma sessão “Dramatico-Musical”. (17)   Igualmente neste ponto cronológico inaugurou-se “um modesto teatro que adquirimos de segunda mão”. (18)   Em territórios mais longínquos, concretamente na Índia, surge a notícia da tomada de posse, neste ano de 1909, por parte dos Salesianos, do orfanato de S. Tomé, na cidade de Meliapor, “já tomamos a nosso cargo a direcção do Orphanato de S. Thomé d’esta cidade”. (19) Realce para a particularidade de este orfanato se destinar exclusivamente a rapazes, em número de 37, de origem europeia. Dá-se nota da existência de outro orfanato destinado aos naturais localizado em Tanjore. “Tambem aqui em Meliapor há muito que fazer”, (20) de acordo com as palavras do Pe. Jorge Tomatis. A riqueza informativa contida nesta publicação de junho é profusa. Nela se anota a participação das presenças salesianas de Lisboa com dois títulos “Lisboa – Officinas de S. José” e “Lisboa – Os oratorios festivos”. No primeiro, conclui-se que “Celebrou-se no dia marcado a festa do nosso caro Padroeiro, e podemos congratular-nos pelo bom êxito com que foi começada e encerrada”; (21) no segundo, reforça-se a ideia dos Oratórios Festivos e dá-se destaque a uma notícia do jornal «Voz da Verdade» – nº 22 de março de 1909, (22) a que já aludimos em escrito anterior, sobre a dinâmica destes oratórios e o pensamento de D. Bosco. Ainda neste número do Boletim Salesiano,  destaca-se novo título, “Vianna do Castello – Solemnes festejos para a inauguração do novo edifício da Offficinas de São José”, “podemos afinal ver realizada, no dia do p.p. Fevereiro, uma das nossas mais ardentes aspirações”. (23) A obra manteve-se durante quatro anos e deveu-se à ação de mais um dos beneméritos que encimou os numerosos contributos ofertados pela população de Viana do Castelo e aconchegou o sonho dos Salesianos, neste caso a figura de António dos Santos Pinto entre outros. O extenso e riquíssimo texto, que testemunha este acontecimento memorável desta cidade, reparte-se em quatro núcleos: o edifício, a inauguração, os festejos e os visitantes.  Uma vez mais a excelência da escrita é admirável nestas anotações sobre o momento vivido.   Breve nuance sobre a figura do Marquês de Liveri e de Valdausa é apresentada bem como o seu contributo para a edificação das Oficinas de S. José de Lisboa. Homenagem e reconhecimento ficaram gravados, nesta data, no Boletim Salesiano. (24) No Boletim Salesiano  de julho, (25)  menciona-se uma vez mais (e dele já fizemos igualmente referência em anterior escrito) a importância dos oratórios com pormenores de grande divícia e o destaque dado ao assunto na imprensa, neste caso através do jornal «O Portugal» de maio do ano em análise.   A festa de Nossa Senhora Auxiliadora, no Colégio dos Orfãos de S. Caetano, em Braga, é dada à escrita no Boletim Salesiano  do mês de agosto: “Celebrou-se com toda a solenidade a festa da nossa celeste Padroeira no dia 24 de Maio”. (26) Descreve-se a tristeza pela morte de um aluno, a Missa Cantada, a Procissão no interior do edifício com a presença de 150 alunos, o sarau e uma conferência do Pe. António Gomes que seria transcrita na íntegra no número do Boletim Salesiano do mês seguinte. Igualmente a festa de S. José, em Viana do Castelo, foi assinalada, “Celebrou-se com toda a solenidade a festa do amave Padroeiro dessa Casa no dia marcado pelo calendario da Igreja”. (27)     O momento festivo da celebração de Nossa Senhora Auxiliadora centralizou-se, no  Boletim Salesiano , no mês de setembro. (28) com crónicas provenientes de Lisboa, das Oficinas de S. José; de Viana do Castelo, das Oficinas de S. José; e de Angra do Heroísmo, do Orfanato João Baptista Machado. A primeira apresenta a festa dividida em quatro partes: o amanhecer e o início da festa, a Missa solene, as Vésperas e, por fim, o momento do teatro. A festa terminou com a descrição “E o Hymno da Carta reboa numa intensa harmonia pelos corredores da casa”. (29) A segunda dá-nos conta da importância atribuída pela imprensa ao momento festivo e principalmente das visitas realizadas pelo público às instalações, onde “reuniu-se a  élite  da sociedade Viannense (…) assistindo ao solenne saráu musico-literario.” (30) A última crónica refere os momentos de preparação para a festa e a afluência nessa ocasião com o sublinhado da presença do Bispo de Angra. O momento festivo constou da Missa, de uma conferência sobre o dia exaltado e de uma brilhante descrição dos espaços e decoração adjacentes. Como conclusão deste mês de setembro, o Boletim Salesiano  coevo refere a visita do Bispo de Angola e Congo, D. João Evangelista de Lima Vidal, às Oficinas de S. José de Lisboa e o recorte noticioso da realização de um bazar de caridade sob orientação da Associação da Imprensa Portuguesa.   Intitulada “Vianna do Castelo – Excursão dos internados da «Officina de S. José» a Villa Real”, relatou-se de forma exaustiva, na publicação de novembro, (31) o passeio dos rapazes desta instituição pelas terras do Minho, Douro e Trás-os-Montes.   No último mês do ano de 1909, o Boletim Salesiano (32)  publicou notícias vindas de Melipor  em  carta enviada ao Pe. Miguel Rua, datadas de 16 de agosto de 1909 e intituladas “A nova Casa de Meliapor – Primeiras Communhões e Certame Catechistico;. De Braga e do seu escrito ficamos conhecedores do momento da distribuição de prémios no “Collegio dos Orphanos de S. Caetano” (33)  e de uma interessantíssima descrição de destrezas gímnicasjos. Vindo do Porto, conclui este mês um texto de grande valor histórico sobre “A Real oficina de S. José – o que tem feito – o que faz – o que tenciona fazer”. (34)   Nova e breve nuance sobre a figura da Duquesa de Palmela, na notícia do seu falecimento e no seu contributo para a edificação das Oficinas de S. José de Lisboa. Homenagem e reconhecimento ficaram gravados, nesta data, no Boletim Salesiano.  (35)   Foi assim o ano de 1909 descrito nas páginas do Boletim Salesiano . Depois, viria 1910 e o agravamento das situações sociais e políticas com fortes repercussões no desenvolvimento da obra salesiana.   __________________________________________________________________________ (1)      Boletim Salesiano, Revista das Obras de Dom Bosco , Anno VIII, Vol. III – N. 2, Fevereiro de 1909. (2)      Ibidem. (3)      Ibid. (4)      Ibid. (5)      Ibid. (6)      Ibid. (7)      Ibid. (8)      Boletim Salesiano, Revista das Obras de Dom Bosco , Anno VIII, Vol. III – N. 3, Março de 1909. (9)      Ibidem. (10)    Ibid. (11)    Ibid. (12)    Ibid. (13)    Boletim Salesiano, Revista das Obras de Dom Bosco , Anno VIII, Vol. III – N. 5, Maio de 1909. (14)    Ibidem. (15)    Ibid. (16)    Ibid. (17)    Ibid. (18)    Ibid. (19)    Boletim Salesiano, Revista das Obras de Dom Bosco,  Anno VIII, Vol. III – N. 6, Junho de 1909. (20)    Ibidem. (21)    Ibid. (22)    Ibid. (23)    Ibid. (24)    Ibid. (25)    Boletim Salesiano, Revista das Obras de Dom Bosco,  Anno VIII, Vol. III – N. 7, Julho de 1909. (26)    Boletim Salesiano, Revista das Obras de Dom Bosco , Anno VIII, Vol. III – N. 8, Agosto de 1909. (27)    Ibidem. (28)    Boletim Salesiano, Revista das Obras de Dom Bosco , Anno VIII, Vol. III – N. 9, Setembro de 1909. (29)    Ibidem. (30)    Ibid. (31)    Boletim Salesiano, Revista das Obras de Dom Bosco , Anno VIII, Vol. III – N. II, Novembro de 1909. (32)    Boletim Salesiano, Revista das Obras de Dom Bosco , Anno VIII, Vol. III – N. 12, Dezembro de 1909. (33)    Ibidem. (34)    Ibid. (35)    Ibid.