Frederico Pimenta
Linhas convergentes
Releitura dos documentos originais da história dos Salesianos em Portugal. Trabalho ímpar de tantos investigadores, com especial destaque para o Pe. Amador Anjos, historiador, conhecedor profundo e inspirador de dissertações e teses sobre a vida e obra dos Salesianos em Portugal.
No dia 26 de novembro de 1936, nas Oficinas de S. José (OSJ), teve lugar uma cerimónia repleta de simbologia histórica que colocou uma vez mais os Salesianos e, neste concreto, o espaço dos atuais Salesianos de Lisboa no contexto autêntico das páginas auríficas de Portugal.
Para a compreensão deste acontecimento impõe-se percorrer a linha cronológica antes e após 1789-1792. Fazendo parte da coroa portuguesa, o território brasileiro foi palco de significativas movimentações, tendo em vista a alteração política do território e a sua independência perante Portugal.
No Boletim Salesiano (BS), (1) sob o título geral de “Notícias de Aquem e Alem Mar”, sobressaem quatro destaques referentes às OSJ, respetivamente: “Resultados do ano lectivo”, do qual retirámos o documento fotográfico que coroa este ensaio e onde se distinguem o Pe. Angelo Semplici e o Pe. Hermenegildo Carrà, “Honrosa visita”, “Solenes exéquias” e “Gentileza inesquecível”. Deles, sem desprimor da envergadura histórica que cada um relata, abordaremos concretamente o terceiro subtítulo.
O âmago deste destaque, no geral, situa-nos, recordamos, no intervalo temporal de 1789 e no espaço do território brasileiro, então sob a auréola da monarquia portuguesa.
Na capitania de Minas Gerais, Brasil, no final do século XVIII, essencialmente no reinado de D. Maria I, repassado pelas ideias liberais, surgiu um movimento de caraterísticas republicanas que propunha a independência dessa capitania e o desenvolvimento de políticas económicas, sociais e culturais. Esse movimento recebeu o nome de “Inconfidentes Mineiros” e foi esmagado pelas forças do poder português que sentenciou o célebre Tiradentes à pena capital e enviou para o degredo, em África, os apoiantes desta revolta. Foi neste contexto e enquadrado no destaque que o governo brasileiro, no ano 1936, sublimou este ato, propondo a alteração da própria designação de “Inconfidentes” para “Conjuração”, transladando, conjuntamente, os restos mortais destes apoiantes que se encontravam em território português.
Cerca de 140 anos depois, na capela das OSJ, “(…) O recinto da capela achava-se literalmente cheio (…)”, em concreto no dia 26 de novembro de 1936, em que se realizaram as solenes exéquias dos “Inconfidentes Mineiros”, “(…) cujos restos mortais eram agora trasladados para o Brasil”.
Este importante acontecimento desenrolado na então capela das OSJ foi confiado ao Dr. Augusto de Lima Júnior, “(…) delegado oficial do Governo Federal para a trasladação das urnas dos Inconfidentes”. Além deste, estiveram presentes importantes personalidades de Portugal e Brasil. O Dr. Augusto de Lima Júnior foi aluno “(…) da Escolas Dom Bosco, de Cachoeira do Campo”. De acordo com o BS dissecado neste ensaio e a transcrição feita da Novidades, esta personalidade era “(…) poeta, conferencista, jornalista, e tudo isso distintíssimo, espírito muito culto, homem de sociedade perfeito (…)”, tendo obtido reconhecimento pelo governo português e pela Sociedade de Geografia, respetivamente com a Cruz de Santiago e o Diploma de sócio.
A missa exequial foi presidida pelo “(…) Pe. Dr. Hermenegildo Carrà, Superior das Casas Salesianas de Portugal”. As Oficinas de S. José assumiram-se, uma vez mais, como espaço distintivo na sociedade de Portugal e Brasil, tomando parte num marco histórico das duas nações.
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- Boletim Salesiano, órgão dos cooperadores salesianos, Ano XXXIV, Num. 2, Março-Abril, 1937.