A presença da família real fez-se sentir, de forma relevante, no ano de 1907, com particular acuidade nas casas salesianas, quer no continente quer nos territórios africanos então pertença da administração portuguesa. Neste espaço de escrita breve, fizemos referência, anteriormente, à passagem da Rainha D. Amélia pelo espaço dos atuais Salesianos de Lisboa, as Oficinas de S. José.
Linhas convergentes
Por Frederico Pimenta
Releitura dos documentos originais da história dos Salesianos em Portugal. Trabalho ímpar de tantos investigadores, com especial destaque para o Pe. Amador Anjos, historiador, conhecedor profundo e inspirador de dissertações e teses sobre a vida e obra dos Salesianos em Portugal.
Moçambique – 1907 – visita ao espaço salesiano
Viagem do Príncipe herdeiro, D. Luís Filipe
A presença da família real fez-se sentir, de forma relevante, no ano de 1907, com particular acuidade nas casas salesianas, quer no continente quer nos territórios africanos então pertença da administração portuguesa. Neste espaço de escrita breve, fizemos referência, anteriormente, à passagem da Rainha D. Amélia pelo espaço dos atuais Salesianos de Lisboa, as Oficinas de S. José. Este testemunho, redigido no Boletim Salesiano, (1) foi subdividido em cinco itens incluídos no título maior Sua Magestade a Rainha de Portugal nas Officinas de S. José de Lisboa. Da mesma publicação, no mês de dezembro, ressalva-se o acontecimento protagonizado por D. Luís Filipe. Destaca-se igualmente a referência à visita enunciada no título deste artigo, incluída na obra Os Salesianos em Moçambique, editada aquando da celebração do centenário da chegada dos Salesianos àquelas terras da África oriental. (2)
O território moçambicano mereceu particular atenção do padre Miguel Rua que apontou essa obra como das fundamentais no ano de 1907, referindo na “Carta anual do Sacerdote Miguel Rua aos Cooperadores e Cooperadoras de suas obras”, publicada no Boletim Salesiano de janeiro de 1907 o seguinte: “(…) e para a fundação de algumas obras novas que tínhamos prometido empreender este anno – por exemplo uma nova casa em Moçambique – podereis vêr quam vasto campo se abre á vossa caridade”. (3)
Nesta conjuntura que agora redijo, testemunhamos a figura do Príncipe herdeiro, sendo rei D. Carlos I, na deslocação a Moçambique realizada na referência cronológica inicialmente indicada nas primeiras linhas deste escrito, perfazendo, na atualidade, 118 anos. Robustecido por forte componente prática, o jovem herdeiro real desenvolvia, desta forma, a sua esmerada educação com vista ao seu futuro desígnio de continuar a responsabilidade do trono: “(…) que elle empreendia por motivo de estudo ás vastas colonnias portuguezas em Africa”. (4) O futuro não se concretizou nesta vertente, pois, como sabemos, o tiro certeiro desfechado no Terreiro do Paço, em 1910, negou-lhe esse horizonte.
No ambiente salesiano, nesse longínquo 1907, anota-se a preocupação e a azáfama dos dias antecedentes a esta visita em especial, “Na nossa Escola tivemos também de proceder a alguns melhoramentos entre os quaes o alargamento dos dormitórios, que se impunha sob todos os pontos de vista”. (5) Nesta descrição, enumerando os acontecimentos do dia 6 de agosto de 1907, pormenoriza-se o momento da chegada: “(…) A’ 6 de Agosto chegava effectivamente ao porto de Moçambique (…).” (6) Ilustrou-se ainda esse momento através da seguinte imagem verbal: “Na ponte de desembarque achavam-se em filas, na retaguarda das tropas regimentaes, os nossos alumnos com a sua bandeira nova e a banda”. (7)
A viagem do herdeiro do trono de Portugal realizou-se a bordo do vapor África que fazia regularmente o transporte para os territórios africanos e distinguiu-se, igualmente, no transporte de soldados para o cenário de guerra vivido entre 1914-1918.
Faziam parte da comitiva de D. Luís “(…) Sr. Ministro da marinha e por numerosa e escolhida comitiva”. (8) Relativamente a este responsável governamental e de acordo com a data de chegada ao território moçambicano, subentende-se ser ele António Carlos Coelho de Vasconcelos Porto, que assumia então, interinamente, o cargo entre 27 de junho e 28 de setembro de 1907 em substituição de Aires de Ornelas e Vasconcelos.
A visita de D. Luís às instalações inaugurais da presença salesiana naquele território e em especial na ilha de Moçambique deu-se no dia 7 de agosto de 1907. A notícia do Boletim Salesiano coevo testemunha esse facto: “(…) visitou a nossa casa manifestando sua satisfação ao vêr a ordem que em tudo reinava”. (9)
Como na maioria das obras salesianas, também neste espaço africano a benemerência constituía uma forte necessidade no desenvolvimento dessas presenças: “Deixou uma generosa esmola”. (10)
- Boletim Salesiano, anno VI, Abril, 1907, Vol. II, N. 4
- Anjos, Amador, e Vieira, J. Adolfo, Os Salesianos em Moçambique – 1907/1913 – 1952/2007, Província Portuguesa da Sociedade Salesiana, Lisboa, 2008.
- Boletim Salesiano, anno VI, Janeiro, 1907, Vol. III, N. 1.
- Boletim Salesiano, anno VI, Dezembro, 1907, Vol. II, N. 12.
- Ibidem.
- Ibid.
- Ibid.
- Ibid.
- Ibid.
- Ibid.