Não precisamos… precisamos

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1. Não precisamos de mais tempo de escolarização segundo o modelo da uniformidade, da unicidade, do dar a todos a mesma coisa no mesmo espaço e no mesmo tempo e com os mesmos grupos de alunos. Precisamos de um outro modo de escolarização: mais personalizado, mais diferenciado que gera mais aprendizagem em cada aluno.

2. Não precisamos de incrementar a “indústria” de programas que proliferam para “recuperar as aprendizagens” e que retêm os alunos mais tempo nas escolas. Os seus nomes quase não têm fim: são programas de rastreio da leitura, do cálculo, mentorias, tutorias, apoio ao estudo, apoio pedagógico acrescido…. Precisamos que o currículo existente possa ser gerido de forma a responder às necessidades dos alunos, recorrendo aos profissionais que trabalham nas escolas e conhecem os alunos. As equipas multidisciplinares são o recurso por excelência para responder de forma específica.

3. Não precisamos de mais sociólogos, psicólogos, terapeutas de diversa origem, assistentes, engenheiros de almas, tutores, mentores. Precisamos de organizar os profissionais para que trabalhem em equipa de modo colaborativo e possam ajustar as variáveis às aprendizagens dos alunos.

4. Não precisamos de medidas “universais” dirigidas ao universo de alunos. Todos são diferentes. Não podem “comer a mesma ementa”. O grande mal da escola é fundar-se no axioma de que “é possível ensinar a todos como se todos fossem um só”.

5. Precisamos de fazer ver as medidas que têm o poder de instituir outra gramática de escolarização. Citei dois exemplos sugeridos pela DGE: as turmas dinâmicas, isto é, que se reconfiguram em diversos tempos semanais para agrupar alunos por níveis de competência e ajustar as práticas às suas singularidades; e as equipas educativas que podem fazer uma gestão curricular personalizada. Estas equipas podem fazer uma gestão personalizada do currículo, dos tempos, dos espaços, das aprendizagens dos alunos, e da alocação dos professores aos alunos. 

6. Precisamos de incrementar medidas que ativem as vontades individuais e colaborativas dos professores, que promovam lideranças centradas nas aprendizagens no apoio à diferenciação pedagógica, que façam ver às famílias o “tesouro da educação”, que valorizem o território e a “cidade” como espaços de aprendizagem.

J. M. Alves