Frederico Pimenta
Linhas convergentes
Releitura dos documentos originais da história dos Salesianos em Portugal. Trabalho ímpar de tantos investigadores, com especial destaque para o Pe. Amador Anjos, historiador, conhecedor profundo e inspirador de dissertações e teses sobre a vida e obra dos Salesianos em Portugal.
O primeiro altar dedicado a S. João Bosco em Portugal
O artigo aqui concebido tem origem no Boletim Salesiano (BS), neste caso datado de outubro de 1939, estando subjacente na série de artigos escritos elaborados anteriormente. (1) Nele se dá notícia da inauguração do primeiro altar dedicado a S. João Bosco em Portugal. O BS alude ao Osservatore Romano de 22 de junho de 1939: “(…) trazia-nos esta grata noticia”. (2)
A cidade do Porto, na Obra salesiana da Oficina de S. José, acolheu esta materialização. Dela damos aqui destaque.
A linha cronológica aponta a data de 11 de junho de 1939 como instante desse acontecimento. A construção do altar, na fotografia avocada para este artigo, testemunha um fino traço e a excelente qualidade artística dos executantes das “Oficinas do Instituto Salesiano”. No documento fotográfico destaca-se ainda uma esmerada escultura com a iconografia adstrita a D. Bosco: “Nêsse dia, S. Excia Revma Dom Antonio de Castro Meireles, Bispo diocesano, benzia a linda estátua (…)”. O Bispo expressou a sua satisfação, sentindo-se “Feliz também por lhe ter sido dado benzer e inaugurar o primeiro altar dedicado a S. João Bosco em Portugal”. A mesma personalidade celebrou, no novo altar, a “Missa da Comunidade” que contou com a presença de benfeitores da Obra Salesiana, especialmente do Porto.
A estátua de D. Bosco, colocada no altar a ele dedicado, surge no texto do BS como realização de Guilherme Thedim: “(…) obra do afamado escultor Guilherme Tadim (…)”. Ressalto para o facto de o irmão mais velho de Guilherme, José Ferreira Thedim de ter esculpido a imagem de Nossa Senhora de Fátima que se encontra na capelinha das Aparições, em Fátima. Comummente aceite é a concomitância no trabalho escultórico da Virgem Maria pelos dois irmãos. Destaque, ainda, para o relato da recolha exaustiva, feita pelo primeiro, das informações traçadas pela vidente Lúcia relativamente à descrição e pormenores esculpidos na figura depositada na Capelinha das Aparições.
Pelo articulista do BS relata-se a existência, na Oficina de S. José, da Escola e do Oratório Festivo, o primeiro com 120 alunos internos e o segundo com 250 meninos.
A figura do Bispo Dom Sebastião Leite de Vasconcelos foi exaltada pelo seu empenho na génese da Obra Salesiana em Portugal e concretamente no Porto. Este tema foi abordado em grafado anterior.
No período da manhã, esta celebração constou de Missa cantada e intervenção sobre a figura de D. Bosco pelo Pe. Marcelo da Conceição. As intervenções musicais estiveram a cargo da Schola-cantorum da Oficina de S. José e, por último, “À Missa seguiu-se o beijo da Relíquia”.
No período da tarde, no salão da Associação Católica, decorreu uma sessão solene em honra do santo fundador dos Salesianos. Ouviu-se o Hino a D. Bosco e as intervenções agendadas para essa sessão, a cargo do Conde d’Aurora, José António Maria Francisco Xavier de Sá Pereira Coutinho, juiz do Tribunal de Trabalho e partidário do movimento conhecido como Monarquia do Norte (1919), e, por último, ouviu-se o encerramento do dia festivo, pelo Bispo diocesano.
Esta sessão encontra-se igualmente testemunhada através de documento fotográfico que acompanha o artigo no BS em epígrafe.
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- Boletim Salesiano, Órgão dos cooperadores salesianos, Ano XXXVI, N.º 7, Outubro, 1939.
- Todas as citações elencadas neste artigo provêm da fonte indicada na alínea anterior e respeitam a ortografia coeva.