O primeiro diretor das Oficinas de S. José

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As Oficinas de S. José receberam o seu primeiro diretor salesiano em 1896 e, durante sete anos, este orientou os difíceis momentos da implementação da obra salesiana em Lisboa. Na chegada à capital, foi acompanhado, entre outros, pelo Pe. João Barilari. O Pe. Pedro Cogliolo orientou as Oficinas de S. José até ao ano de 1903, altura em que o Pe. Ambrósio Tirelli assume a direção. Linhas convergentes _____________________________________________________ Por Frederico Pimenta Releitura dos documentos originais da história dos Salesianos em Portugal. Trabalho ímpar de tantos investigadores, com especial destaque para o Pe. Amador Anjos, historiador, conhecedor profundo e inspirador de dissertações e teses sobre a vida e obra dos Salesianos em Portugal. O primeiro diretor das Oficinas de S. José e outros elos moçambicanos 1908, 1909 e 1910 marcam a conclusão da primeira década do século XX. Debruçamo-nos, uma vez mais, pois já o fizemos em ensaios anteriores, sobre este triénio, subsidiando, compilando e repescando informação acerca deste período. As fontes inestimáveis fluem nas linhas do Boletim Salesiano das épocas coevas e na escrita corrente provinda do Pe. Amador Anjos Servo. A presença do Pe. Pedro Cogliolo, em concomitância com a chegada inaugural dos Salesianos em Portugal, aconteceu em 1894 na cidade de Braga quando assumiu o cargo de superior do Colégio dos Órfãos de S. Caetano. Neste início, foi acompanhado pelo Pe. Ângelo Bergamini e pelo leigo José Galli. (1) As Oficinas de S. José receberam o seu primeiro diretor salesiano em 1896 e, durante sete anos, este orientou os difíceis momentos da implementação da obra salesiana em Lisboa. Na chegada à capital, foi acompanhado, entre outros, pelo Pe. João Barilari. Destes nomes, abordaremos por ordem cronológica do Boletim Salesiano os seus testemunhos, neste caso concreto sobre o particular do território moçambicano. No caso das Oficinas de José, esta inauguração obedeceu a um percurso assaz complexo atendendo à juventude dos elementos salesianos e às diferenças dos novos desafios geográficos, pagamento de dívidas com o engrandecimento da obra salesiana e aspetos culturais, vencidos com a perseverança subjacente às ideias de D. Bosco. No período aqui abordado, somamos obrigatoriamente a perspicácia do fundador à subtileza do sucessor D. Miguel Rua que dinamizou desde fevereiro de 1888 até 1910 a Congregação Salesiana. O Pe. Pedro Cogliolo orientou as Oficinas de S. José até ao ano de 1903, altura em que o Pe. Ambrósio Tirelli assume a direção. O primeiro, em simultâneo com o cargo diretivo, foi provincial, orientando desta forma a província portuguesa desde 1899 até 1908. É nesta faixa cronológica que o vamos encontrar no Vaticano. A 3 de dezembro de 1907 foi recebido pelo Papa Pio X e aí apresentou a situação da Província Portuguesa, “…não só na Metropole mais em modo especial em suas immensas colonias”, falando “Sua Santidade com o zeloso iniciador da Obra Salesiana no reino Lusitano”. (2) Sensivelmente um ano depois, foi nomeado visitador extraordinário das casas salesianas de Catalunha, África, Ásia e América do Norte. (3) Em 1908, aquando do Regicídio, e de acordo com a imprensa da altura, tomando como fonte o jornal Portugal de 8 de fevereiro, o diretor das Oficinas de S. José celebrou missa na Capela das Necessidades e “O Rev.mo Sr. P.e Pedro Cogliolo, Superior dos Salesianos em Purtugal, mal soube do ferino regicídio, apressou-se a apresentar no Paço Real as condolencias, sentidissimas e sinceras das casas de D. Bosco n’aquelle reino”. (4) Ainda neste âmbito, observamos no Boletim Salesiano de maio a seguinte notícia: “Na 1ª sexta-feira de março congregavam na sua capella brilhante escol de pessoas da nossa primeira sociedade, adrede convidadas” com a finalidade de participarem nas “Solemnes exéquias por alma de S. Magestade el-rei o Senhor D. Carlos I e Principe Real D. Luis Filippe”. (5) Na sua esteia missionária, os Salesianos espraiaram-se por diferentes territórios geográficos e é nesta senda que encontramos o Pe. João Barilari, companheiro de Pedro Cogliolo na chegada dos Salesianos a Lisboa. Em 8 de fevereiro de 1908 encontra-se em Moçambique de onde enviou para D. Miguel Rua, com o título Festas na casa de Moçambique, notícias daquele lugar e do respetivo desenvolvimento da presença salesiana. Através da sua correspondência inclusa no Boletim Salesiano, ficamos a saber de três marcantes pormenores: a chegada no paquete “Portugal” de uma imagem da Virgem Auxiliadora “… que mede 1 m. 40 de alto…”, “… a primeira vez que fizemos aqui em Moçambique a Festa de S. Francisco de Sales …“ e “ De tarde procedeu-se à bênção da bandeira da Escola…”, (6) Com as armas da cidade e, no reverso, as palavras Virtude e Trabalho embutidas em simbologia de folha de louro triunfante, como ideário da presença salesiana. Em Lisboa, semelhante acontecimento tivera lugar na Rua do Sacramento, na zona da Lapa, então sede das Oficinas de S. José, em 1905. No dia 19 de março de 1908, nas Oficinas de S. José, na missa celebrada pelo Pe. Agostinho Colussi, por ocasião da Festa de S. José, encontramos o Pe. Pedro Cogliolo na leitura do Evangelho; “… por três quartos de hora explanou proficientemente a vida, e as virtudes de S. José…”. (7) O Pe. Martinho Recalcati, em carta datada de 13 de março de 1908, uma vez mais endereçada a D. Rua, vinda de Moçambique, dá notícias deste lugar que entusiasmava o Pe. Pedro Cogliolo. Enfatiza “Acompanhou-me a bordo o querido Inspector com outros irmãos…” (8) no momento da partida do paquete “Portugal” para este lugar banhado pelo Oceano Índico. Em Moçambique, o Pe. Martinho foi “… recebido por todos os irmãos, mas sobretudo pelo Padre Barilari, com verdadeiro entusiasmo”. (9) Enumera as condições que encontrou no local, referindo-se aos aspetos sociais económicos e paisagísticos, tecendo um conjunto de azimutes para a presença salesiana, pois “Todos esperam que os jovens educados no Orphanato sejam não só morigerados, mas também laboriosos…”. (10) Apresenta, por último, a D. Rua, a quem a carta é dirigida, a descrição de enormes extensões de terra adequadas para a criação de uma colónia agrícola destinada aos mais desfavorecidos. O Pe. Recalcati aborda este assunto noutra correspondência datada de 1 de julho de 1908. Em Moçambique, de acordo com documento datado de 7 de março de 1908, celebra-se o primeiro aniversário da chegada dos Salesianos àquele território, “Há um anno justo que os 4 Salesianos embarcados em Lisboa chegaram com prospera viagem a este porto de Moçambique…”. (11) Ali tomaram a direção da Escola de Artes e Ofícios da cidade de Lourenço Marques, atual Maputo. No ano elencado, além desta celebração, realce para a chegada, abordada anteriormente, na mesma data, do Pe. Martinho Recalcati como novo elemento adstrito ao desenvolvimento da presença salesiana. Constata-se ainda a celebração da Festa de S. José, “ Tambem aqui em Moçambique pudemos celebrar pela primeira vez a festa do nosso amavel Padroeiro S. José” (12) que foi igualmente indicado para padroeiro “… especial da casa”. (13) Relativamente à ligação do Pe. Martinho Recalcati com Moçambique sentimo-la em carta enviada pelo Pe. João Barilari a D. Rua. A alegria da sua chegada é imensa pois “Chegou cheio de boa vontade, e crêmos bem que com elle esforçado e com sua costumada alegria, nos será um auxiliar de primeira ordem, como tanto é necessário”. (14) O Pe. Barilari refere os primeiros batizados realizados naquele espaço salesiano. (15) Anota-se, ainda no território moçambicano, a notícia de dois violentos tremores de terra sentidos a 18 de março e 24 de março, em que, de acordo com o Pe. João Barilari, “Felizmente tudo ficou no susto…“. (16) Com a data de 18 de outubro de 1909, enviada de Capetown tendo como destinatário D. Miguel Rua, podemos ler a “Carta do Inspector das Casas Salesianas em Portugal, Padre Pedro Cogliolo, nomeado Visitador extraordinário ás Casas Salesianas do Oriente”. (17) Nela se constatam as impressões da viagem com destino à Índia incluindo o relato da paragem e a descrição de dois territórios inclusos no título “De Moçambique a Capetown”. Neste texto, sem descortesia para os territórios mais a sul, ressaltamos o território moçambicano, em concreto a cidade de Lourenço Marques, pelo seu valor descritivo, o mesmo que encontrámos na carta do Pe. Martinho Recalcati, e pela perspetivação do futuro da presença salesiana naquele lugar de África. A chegada ao território moçambicano deu-se por volta do dia 30 de setembro de 1909 e permitiu constatar o desenvolvimento daquele lugar: “… Pude assim verificar quanto tem progredido a capital da Colonia portugueza”. (18) O traçado da cidade, o arruamento, os carros elétricos, o tipo de vegetação, o clima sempre quente, a paisagem e a população existente deslumbraram o viajante. No entanto, tal como tinha acontecido nas descrições das chegadas a Braga e Lisboa, o Pe. Pedro Cogliolo desabafa que “… infelizmente o progresso moral e religioso não condiz com o progresso material!”. (19) Testemunha que existe uma única igreja e um colégio para meninas pertencente às Irmãs de S. José de Cluny. Desta constatação, o Pe. Pedro Cogliolo conclui: “Creio que com o tempo a obra salesiana poderá fazer ahi grande bem”. (20) Depois deste aceno, a viagem continua para Joanesburgo e Índia. O Pe. Pedro Cogliolo, em 1910, após a implantação da república e do consequente posicionamento anticlerical que levou ao fecho das Oficinas de S. José, desenvolveu em Lisboa amplo movimento de defesa da obra salesiana. ______________________________________________________________________ (1) Servo, Amador Anjos, Oficinas de S. José, Os Salesianos em Lisboa, Lisboa, 1999. (2) Boletim Salesiano, Revista das Obras de Dom Bosco, Anno VII, Janeiro de 1908, Vol. II, N. I. (3) Servo, Amador Anjos, Oficinas de S. José, Os Salesianos em Lisboa, Lisboa, 1999. (4) Boletim Salesiano, Revista das Obras de Dom Bosco, Anno VII, Abril de 1908, Vol. II, N. 4. (5) Ibidem. (6) Boletim Salesiano, Revista das Obras de Dom Bosco, Anno VII, Junho de 1908, Vol. II, N. 6. (7) Ibidem. (8) Boletim Salesiano, Revista das Obras de Dom Bosco, Anno VII, Agosto de 1908, Vol. II, N. 8. (9) Ibidem. (10) Ibid. (11) Boletim Salesiano, Revista das Obras de Dom Bosco, Anno VII, Setembro de 1908, Vol. II, N. 9. (12) Ibidem. (13) Ibid. (14) Ibid. (15) Ibid. (16) Ibid. (17) Boletim Salesiano, Revista das Obras de Dom Bosco, Anno IX, Fevereiro de 1910, Vol. III, N. 2. (18) Ibidem. (19) Ibid. (20) Ibid.